Usos estratégicos da Inteligência Artificial e a Inteligência Ancestral foram temas da mesa redonda
Por Fernanda Ikedo (Agência Focas – Jornalismo Uniso)
Envolvimento com o planeta para o bem viver no lugar de desenvolvimento e florestania no lugar de cidadania. Parece licença poética, mas são conceitos da Inteligência Ancestral trazida por Florence Marie Dravet (PUC/BSB), convidada na mesa redonda do segundo dia do Epecom.
Com o tema Entre o Bem e o Mal: Inteligência Artificial, Visões Antagônicas e os Estudos em Comunicação participaram da mesa, junto com Florence, os professores Luis Roberto Albano (Uniso) e Bruno Aguilar da Cunha (Uniso), com mediação do professor Guilherme Profeta (Uniso).
Tomando como referência o cientista Miguel Nicolelis, Florence iniciou sua fala com a discussão sobre inteligência ser propriedade de organismos biológicos, portanto, torna-se inadequado falar em inteligência artificial.
“Enquanto espécies de organismos vivos, somos filhos da Terra, talvez seja uma obviedade, mas uma obviedade esquecida por nós que damos muita importância para as máquinas”, pontuou.
Para ela, que coordena o Laboratório Metaverse: O futuro é ancestral (https://labmetaverse.com.br/), não há dúvida de que são os povos originários que apontam modos de relacionamentos mais viáveis entre nós e o planeta. São eles que mantêm o rio da memória continuada (Krenak).
Na ideia de pluriversos, “são eles (povos originários, quilombolas) que nos convidam a reflorestar nossos imaginários. Eles que nos convidam ainda a imaginar mundos em que outros mundos são possíveis”.
Da filosofia para as ações, o laboratório Metaverse atua com metodologia transdisciplinar e trabalha com narrativas de um povo indígena, o povo Yawanawá ,do Acre, em 360 graus (realidade virtual). “Por que metaversos, por que filmes em 360? Porque estamos trabalhando em vários níveis de realidade e imersão, aliados aos mitos milenares”, explica.
A aldeia do povo Yawanawá, produz anualmente o Festival Aldeia Mutum e passa para o mundo a mensagem de que é o tempo da aliança entre os povos indígenas e povo branco, integrados na indústria fonográfica, mantendo o bem viver (quéchua) e a utopia realista (EdgarMorin).
Florence conclui com a referência da obra Ponto Cego, do astrofísico Adam Frank, do filósofo Evan Thompson e do físico teórico Marcelo Gleiser, que afirma que só reconhecendo a experiência humana, enquanto filhos da Terra, que tornamos a ciência possível, o que ressalta a expressão: o futuro é ancestral.
Potenciais e impactos da linguagem generativa
O professor Luís Roberto Albano aprofundou o conceito de inteligência generativa, o ChatGPT, abordando a instrumentalização da tecnologia, com a aproximação entre máquina e inteligência artificial.
Embrenhadas com as relações de poder, Albano questiona quem toma as decisões sobre o uso das tecnologias? E argumenta sobre a importância da regulamentação da Inteligência Artificial.
Na mesma linha de pensamento, o professor Bruno Aguilar Cunha trouxe pesquisas que demonstram “O paradoxo da IA: da sociedade da informação à sociedade da dívida cognitiva”.
Cunha destacou o relatório da própria OpenAI: 700 milhões de usuários semanais do ChatGPT em 2025 – 29 mil mensagens por minuto. Trata-se de uma difusão tecnológica sem precedentes na história humana, com crescimento mais rápido em países de baixa e média renda, como o Brasil.
Em sua apresentação, Cunha trouxe os pilares de uso da IA: orientação prática, busca por informação e escrita. São usos da ferramenta para decisões diárias, não apenas no trabalho.
Qual a dívida cognitiva? Menos esforço mental no curto prazo, com custos a longo prazo, com a deterioração do pensamento crítico e da criatividade. Uma terceirização do pensamento.
Tanto Florence quanto Albano e Cunha não manifestam o abandono da IA, mas sim usos de forma mais estratégicas.
Após as apresentações, os palestrantes responderam perguntas do mediador professor Profeta e do público que estavam no presencial e virtual.




